Textos clásicos
Citraria e falcoaria velha
I
Pera curar a dor da cabeca do acor
Toma o pez mui limpo, tamanho como faua, e aquentao com os dedos ao fogo e põe o no padar do acor. Esfregào tanto ate que se tenha e filha tres grãos de pimenta alua e pisa tudo ate que se faca bem miudo e põe o sobre o pez no padar, e aquillo que ay ficar, lancalho nos narizes, e não lho deites senão quando fezer bom sol quete. E leixao ay estar ate que todos os humores da cabeca e freima [fol. 29v] per scuma sejão purgados, e dalhe pouca cea aquelle dia. E toma o mel e a manteiga uelha e a cilidonia, tanto de hu como do outro, e faze pò e dalho antre a carne quando comer, e seja bõa carne. E se Deos quiser sarara.
II
Do ajoujar do acor
QPera o curares desta dor, de que lanca agoa pellos narizes, toma tres grãos de pimenta e tres de fau[ar]as e pisaas muí bem em o morteiro d'arame e destemperaos cõ uinagre forte e lãcalha pellas uentãs e põe o ao sol. E depois que lancar a agoa toda fora, dalhe de hua frangam ou frangão a mesura. E sera são se Deos quiser.
III
Pera curar a dor que chamã fortim
Toma o alardo do porco e a pimenta e mestura tudo e dalho a comer, e em outro dia dalhe o alõe e carne de galinha quente. E sarara se Déos quiser.
IV
Pera curar a dor que chamã fistola
Dopenalhe a cabeca arredor e untalha cõ hua enxuda de porco e cõ manteiga, e acharlheas hua uea que lhe uaj contra os olhos, e talhà de maneira que se lhe uà do sangue [fol. 30]. E toma hua agulha de latão e aquentaa e queimalha cõ ella, e toma a mãteiga e untalha cada dia. E sera logo são se Deos quiser. E tem o e lugar bem quente.
V
Pera curar a dor a que chamã agro
Toma agulha do aceiro e aquentaa ao logo o furalhe os narizes com ella e saya do outro cabo. E untao depois cõ oleo de oliuas ou cõ manteiga onde estam as queixadas. E sera são se Deos quiser.
VI
Pera curar a dor do peito
Toma ouro pimenta cõ dous grãos de pimenta e faze pò e dalho a comer na carne quente, e toma tres pecas de lardo de bom porco e meteas em bom mel e toma a limadura do ferro bem moido e lancalha per cima, se o quiser comer, senão metelho na garganta. E faze isto per tres dias, e não lhe des al a comer. Ao quarto dia dalhe carne de porco fresca e tenrra, molhada no uinho branco, aquentalhe os peitos ao fogo, e des que for bem quete, metelhe [fol. 30v] a cabeca no leite. E a cabo de tres dias dalhe outro tal a comer, e tem o na mão que não rejeite o que comer, e depois dalhe as pombas quentes e das galinhas gordas. E sera logo são, Deos querendo.
VII
Pera curar lombrigas ao açor, falcão ou gauião
Toma o frangão e lauao bom com agoa e dalho a comer, e fazelhe follezinhos e dalho[s] por medida tamanhos como a metade do teu dedo pollegar, e encheos d'olleo d'oliuas bem luzente; e liando de ambas as partes cõ fio bem rijo, meteo na boca ao acor assi como outra purga. E day ao outro dia toma o ouro, e rapao cõ um cuitello, e o estereo das passaras e faze pos mais sotis que puderes e dalhe a comer em carne de galinha quente. E fazeo logo são. Em os dias dalhe a limadura do ferro bem moido cora carne quente, e dalhe do porco bem miudo cõ galinhato quente, e sarara. E toma ainda o ouo cõ leite quente das cabras e fazeo feruer em hua sartã lipa, e seja sem fumo, e ferua ate que seja duro, e dalho duas ou tres uezes a comer se se mais derrama ou queixa. Isto ual muito pera toda a dor [fol. 31].
VIII
Da dor da pedra
Toma o oleo patico e um grão de faparraz e piza tudo, e o oleo patico seja tres tanto que o faparraz, o toma a perna da galinha e lancalhe desse põ, e untaloas primeiro no azeite das oliuas. E dao a comer a aue tres dias ate que uejas o esterco dolla, o negro por si so o branco por si, descuberto e não dessolto. E crese que esta pedra crèsce e mingoa segundo o curso da lua.
IX
Pera curar a aue que come sobre o rejeito
Toma a mãteiga e as podras pequenas como fauas enuoltas cõ manteiga, se as quiser comer, senão metelhas pela boca per forca. E o dia que lhas deres, não lhe des de comer ate depois de uesperas; etãto dalhe bõa galinha cõ tres regeitos, e uè os regeitos se sam espurgados ou não quando fezer. E não lhe des de comer ate que lance as pedras.
X
Pera curar a tinha da aue [fol. 31v]
Toma o balsamo e do ouro e mete nos furados donde cairem as penas da aue, o tem por certo que morrera a tynha e nacerã as penas nouas e bõas. Item, para esta dor toma acafrão do oriete e o cumo do esterco das ades resete e coado por pano de linho, tres culheradas de uinagre, de mirra forte, e mestura todas estas cousas em hu uaso do corno ou de uidro; e estè ay tanto ate que seja [espesso], day metelho nas feridas, donde sayrã, as penas, per tres uezes cõ uinagre forte. Item, toma a[s] sammisugas e põe as sobre telhas quentes e queimarseã; e toma o pò dellas e uinagre bem forte, e seja esposso, e destemperá o po cõ elle e metelho nos furados, e uta a tinha e as penas cõ o lardo do porco. E aquella cõfeicão faze duas uezes na somana ate que nacam as penas nouas. E toma sedas de cauallo e fazeas bem meudas, e dalhas na carne a comer, o dalhe a limadura do ferro a comer na carne, e são lhe bõas. Item, po [de] piroto e o funcho e uinagre e destemperado tudo, utalhe a tinha, e faze isto por tres uezes. E sarara cedo, Deos querendo.
XI
Pera curar a dor artetica
Doponalho o coho e tiralhe o sangue da uea organil e dalhe a comer a rà. E so uiros que tolhe, [è são]. [fol. 32].
XII
Pera curar a gota
Toma a cobra negra, e cortalhe hu palmo da cabeca e outro do rabo, e tomà e ferua e panella noua e toma a grossura que lanca e dalha a comer na carne do cabrão per oito dias. Depois toma leitoa depenada e agoa e dalhe della a comer.
XIII
Pera curar a dor da pedra que nam é nos lombos
EToma [girofes] e faze pò e meteo de su e dalhe a comer do frangão, e se o nam regeita, è logo são. E se não poder a podra tolher logo no fundamento, dalhe o coracão do porco e a pasarinha; e dalho per tres dias, e logo sarara se Deos quiser.
XIV
Dos pes inchados
Pera curar esta dor toma a manteiga e o olio das oliuas e o alõe, tanto de hu como do outro, e põe o falcão ao sol e untalhe os pes ate tres dias, e dalhe a comer carne de gato. E logo sera são se Deos quiser. E isto è esprementado.
XV
Para curar os piolhos do açor [fol. 32v]
Toma o argem uiuo e o teu cuspinho e a pimeta e a cinza e mete tudo de sum ate que moira o arge uiuo, e filha a enxunda uelha e meixe tudo isto. E depenalhe a cabeca ecima hu pouco e utalha cõ estas cõfeicões, e day toma hu fio de lam e hu piqueno de pano e põe lho na gargãta. E morrerã todos os piolhos.
XVI
Da conhecenca do falcão
Pera o conheceres de linage, catalhe que tenha a cabeca bem cham e o rosto gordo e barbudo e as faces negras e o collo longo e as espadoas anchas e descarregadas e as às delgadas e sotis e as couxas lougas e as canas das pernas curtas e a palma do pe ancha e delgada e os dedos longos e delgados, e serão os dedos arredados como e cruz.
XVII
Pera quando fugir o acor e attender ao home
Toma aipo, mentha negra e o perrexil o pisa tudo de cõsum e dalho cõ a carne quete. E è mui bom.
Creación / última revisión: 12.06.2012